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Amnésia infantil

Por que não nos lembramos dos primeiros anos de vida?
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Praticamente todos os adultos, independentemente de cultura, país ou época, não conseguem recordar acontecimentos vividos nos primeiros anos de vida, especialmente antes dos 2 ou 3 anos. Embora pareça estranho - afinal, bebês vivem muitas experiências marcantes, aprendem a andar, a reconhecer pessoas, a se comunicar - essas memórias não ficam acessíveis quando crescemos. Isso é chamado de amnésia infantil. Mas, por que isso acontece e que mecanismos do cérebro estão envolvidos?

Amnésia infantil é o nome dado à incapacidade natural de adultos lembrarem de eventos ocorridos no início da infância, principalmente nos dois primeiros anos. Não se trata de um problema de saúde ou de memória fraca, mas sim de um processo normal do desenvolvimento humano.

Mesmo que não guardemos lembranças conscientes desse período, o bebê aprende intensamente. Ele reconhece cheiros, rostos, sons, estabelece vínculos e cria preferências. Ou seja: o cérebro trabalha a todo vapor, mas ainda não produz memórias autobiográficas duradouras (aquelas que conseguimos contar como histórias).

Por que não lembramos do que vivemos como bebês?
Vários fatores explicam a amnésia infantil. Os principais são:

O cérebro ainda está em construção
Nos primeiros anos de vida, o cérebro passa por uma fase impressionante de crescimento. Regiões como o hipocampo, essencial para formar memórias de longo prazo, ainda estão imaturas, então não funcionam com a mesma eficiência de um cérebro adulto.

Por isso, as memórias até podem ser registradas, mas não são consolidadas de modo estável o suficiente para permanecer por décadas.

Falta de linguagem para organizar lembranças
Memórias autobiográficas dependem não só do cérebro, mas também da linguagem. Para lembrarmos de algo anos depois, precisamos organizar aquela experiência em palavras, conceitos e relações.

Um bebê de 1 ano não consegue fazer isso. Ele vive a experiência, mas não possui vocabulário nem estrutura narrativa interna para registrá-la como uma “história”. Quando aprende a falar, por volta dos 2 ou 3 anos, começa a ter ferramentas para ordenar mentalmente acontecimentos e recuperar essas informações mais tarde.

Mudanças rápidas demais no cérebro
Durante os primeiros anos, o cérebro passa por um processo chamado poda neural: conexões que não estão sendo usadas são eliminadas, enquanto outras se fortalecem. É um ajuste fino natural, que torna o cérebro mais eficiente.

Mas essa remodelação pode “apagar” traços de memórias formadas antes de a estrutura cerebral se estabilizar.

É como reorganizar uma casa durante uma reforma: algumas coisas simplesmente se perdem no processo.

A memória emocional é diferente da memória consciente
Embora não lembremos de eventos específicos, guardamos memórias emocionais desse período. Por exemplo: bebês reconhecem e preferem quem os cuidou, respondem com ansiedade à separação e aprendem rotinas rapidamente.

Esses registros, porém, não se transformam em memórias narrativas.

Por isso, você pode não lembrar do seu primeiro aniversário, mas ele influenciou vínculos e percepções de segurança.

Então nada do que vivemos ficou registrado?
Ficou sim, mas de maneiras diferentes: na memória implícita, ligada a sensações, emoções e habilidades, na memória procedimental, como aprender a engatinhar, andar ou reconhecer padrões e na memória afetiva, como os vínculos com pessoas próximas.

Essas memórias não podem ser “contadas”, mas moldam o comportamento futuro.

Quando começamos a lembrar de fato?
A maioria das pessoas só forma memórias autobiográficas duradouras a partir dos 3 a 4 anos. Por isso, nossas primeiras lembranças costumam envolver situações marcantes, como: um passeio incomum, o nascimento de um irmão, uma festa de aniversário, uma viagem, um susto.

Esses eventos ganham força porque já temos linguagem, cultura e estrutura cerebral suficientes para registrá-los como histórias.

Resumindo, a amnésia infantil é um fenômeno natural, resultado da combinação de cérebro em desenvolvimento, falta de linguagem, reorganização neural acelerada e diferenças entre memória emocional e memória consciente.


Embora não possamos contar o que vivemos aos 1 ou 2 anos, essas experiências não se perderam: elas ajudaram a moldar quem somos, desde nossos vínculos mais profundos até a maneira como aprendemos e reagimos ao mundo.

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