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Terras raras

18/04/2025
O novo capítulo da guerra comercial entre EUA e China


Tesouro estratégico do século XXI
A guerra comercial deflagrada a partir do aumento de tarifas anunciado pelo governo Trump para os parceiros dos Estados Unidos ganhou novos contornos com a medida de retaliação anunciada pela China de suspender a exportação de um grupo dos minerais chamados de terras raras.

As chamadas terras raras são um grupo de 17 elementos químicos da tabela periódica. Apesar do nome, muitas dessas substâncias não são exatamente raras em termos de abundância na crosta terrestre; o termo se refere, na verdade, à dificuldade de encontrá-las em concentrações economicamente viáveis e à complexidade do processo de extração e refino.

Estes elementos possuem propriedades físico-químicas únicas, como alta condutividade, magnetismo e fluorescência. Por isso, são indispensáveis para a fabricação de tecnologias modernas - de smartphones, tablets, baterias recarregáveis, turbinas eólicas e carros elétricos a sistemas de defesa, mísseis guiados, radares e lasers. 

Importância estratégica
A importância das terras raras vai muito além da economia: elas representam um recurso estratégico e geopolítico. Isso porque sem elas, as economias modernas não funcionariam e, sobretudo, os exércitos de grandes potências não teriam acesso a componentes fundamentais de sua tecnologia militar. Por isso, países como os Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia consideram o fornecimento contínuo desses materiais como questão de segurança nacional.

Reservas e produção global
Embora as terras raras estejam presentes em diversos países — incluindo Brasil, Rússia, Índia, Vietnã, Austrália e Estados Unidos - a China domina completamente a cadeia de produção global. Cerca de 60 a 70% da produção mundial vem do território chinês, e o país detém know-how técnico para separação e refino, um processo extremamente poluente e complexo.

A extração e o processamento das terras raras são processos caros e poluentes, porque todas as terras raras contêm elementos radioativos. Por isso, muitos outros países, embora tenham reservas desses minerais, relutam em produzi-los.

A China também possui as maiores reservas conhecidas e, nas últimas décadas, investiu pesadamente na verticalização da produção, criando dependência internacional em relação a suas exportações. Essa dependência se tornou uma arma poderosa nas disputas comerciais e políticas globais.

Por que a China suspendeu exportações para os Estados Unidos?
Nos últimos anos, especialmente durante os conflitos comerciais entre China e Estados Unidos, Pequim adotou a suspensão ou restrição das exportações de terras raras como forma de pressão geopolítica. Em 2023 e 2024, por exemplo, a China suspendeu a exportação de tecnologias de refino e alguns compostos específicos usados nos EUA, sob o argumento de proteger sua segurança nacional e interesses estratégicos.

Na prática, a medida foi uma resposta às sanções comerciais e tecnológicas impostas pelos EUA, como as restrições ao fornecimento de chips avançados e equipamentos de litografia para a indústria chinesa. Ao limitar o acesso dos americanos a componentes essenciais para a indústria de defesa e tecnologia verde, a China buscou mostrar sua capacidade de influenciar a economia global.

Os Estados Unidos possuem uma mina de terras raras em operação, mas não têm a capacidade necessária para separar terras raras pesadas e precisam enviar o minério para processamento na China.

A dependência excessiva de minerais críticos estrangeiros e seus produtos derivados pode prejudicar as capacidades de defesa, desenvolvimento de infraestrutura e inovação tecnológica dos Estados Unidos. Analistas políticos afirmam que essa dependência é que motiva o presidente Trump a tentar firmar um acordo de exploração de minerais com a Ucrânia e revelar o interesse em se apossar da Groenlândia.

Controle de recursos
A disputa pelas terras raras ilustra um novo tipo de conflito: não mais baseado apenas em armas ou petróleo, mas no controle de recursos estratégicos do século XXI. A dependência do mundo em relação à China nesse setor expõe fragilidades profundas nas cadeias produtivas globais e desperta a corrida por alternativas - como reciclagem, novos processos de extração, diversificação de fornecedores e até mineração em asteroides.

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