Entre tapas e beijos: a complicada relação entre Estados Unidos e Rússia
Temos assistido recentemente a uma agitada e controversa troca de mensagens entre Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Donald Trump, presidente dos EUA. Ambos já trocaram elogios e chegaram a anunciar uma reaproximação dos dois países, depois da rivalidade entre ambos estar em alta, após a denúncia de interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016 que deram a vitória a Donald Trump contra Hillary Clinton.
As relações entre Estados Unidos e Rússia, duas das maiores potências mundiais, são marcadas por um histórico complexo e dinâmico, repleto de momentos de tensão, cooperação estratégica e rivalidades ideológicas. Desde o século XX, os dois países têm oscilado entre alianças circunstanciais e enfrentamentos diretos ou indiretos, refletindo as mudanças na ordem mundial e em seus próprios interesses geopolíticos.
Durante a Primeira Guerra Mundial, os EUA e a então Rússia czarista tiveram relações diplomáticas formais, mas não especialmente próximas. A Revolução Russa de 1917 e a ascensão do regime comunista com a União Soviética esfriaram drasticamente o relacionamento. Os Estados Unidos não reconheceram oficialmente o novo governo bolchevique até 1933. Esse distanciamento inicial moldou o início de uma longa rivalidade ideológica entre o capitalismo ocidental e o socialismo soviético.
Na Segunda Guerra Mundial, no entanto, as nações se aliaram temporariamente contra um inimigo comum: a Alemanha nazista. Essa cooperação, apesar de tensa, foi essencial para a vitória dos Aliados. Contudo, logo após o fim do conflito, o mundo entrou na chamada Guerra Fria (1947–1991), um dos períodos mais intensos de rivalidade entre os EUA e a União Soviética. Embora nunca tenham se enfrentado diretamente em uma guerra declarada, as potências competiram por influência global em uma série de conflitos indiretos, como as guerras da Coreia, do Vietnã, do Afeganistão e diversas disputas na América Latina, África e Oriente Médio.
A Guerra Fria também foi marcada por uma corrida armamentista nuclear, pela formação de blocos militares como a OTAN e o Pacto de Varsóvia, e por momentos críticos como a Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962, que quase levou o mundo a uma guerra nuclear. Apesar das tensões, houve tentativas de distensão, como os acordos de controle de armas (SALT e START) e o período de détente, termo francês que significa distensão, nas décadas de 1970 e 1980.
Com o colapso da União Soviética em 1991, muitos acreditaram que se iniciaria uma nova era de cooperação entre Washington e Moscou. De fato, houve uma aproximação inicial, com a Rússia adotando reformas econômicas pró-mercado e buscando integrar-se ao sistema internacional liderado pelos EUA. Contudo, as desilusões com o Ocidente, o alargamento da OTAN para o Leste Europeu e os conflitos em regiões de interesse russo reacenderam a desconfiança.
No século XXI, as relações voltaram a se deteriorar, especialmente após a ascensão de Vladimir Putin ao poder. Os Estados Unidos acusaram a Rússia de autoritarismo, interferência em eleições, repressão a opositores e violações dos direitos humanos. Por outro lado, a Rússia criticou a atuação dos EUA no Oriente Médio e sua influência militar crescente nas fronteiras russas. A anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e o apoio a separatistas no leste da Ucrânia agravaram a situação, resultando em sanções econômicas e isolamento diplomático por parte do Ocidente.
Mais recentemente, a guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão russa em 2022, reacendeu a lógica da Guerra Fria, com os EUA apoiando a Ucrânia militar e financeiramente enquanto condenavam as ações russas em fóruns internacionais. Essa nova fase de confronto, agora em um mundo multipolar, demonstra que os ciclos de aproximação e ruptura entre essas potências seguem moldando a geopolítica global.
A história das relações entre Estados Unidos e Rússia é uma narrativa de rivalidade persistente com breves intervalos de cooperação. Ela reflete não apenas disputas por poder e influência, mas também o choque entre visões de mundo distintas — o que torna o entendimento dessa relação essencial para compreender os rumos do cenário internacional contemporâneo.
Aguardemos os próximos capítulos.