Retomada de testes nucleares

A recente decisão de Donald Trump de retomar os testes nucleares nos Estados Unidos, anunciada em 29 de outubro de 2025, suscitou uma onda de preocupação internacional, reacendeu fantasmas da Guerra Fria e levanta sérias questões sobre segurança global, proliferação e estabilidade geopolítica.
Na sua rede social Truth Social, Donald Trump anunciou que instruiu o Departamento de Defesa (renomeado para “Departamento da Guerra”) a retomar imediatamente os testes de armas nucleares. Segundo ele, a motivação seriam os “programas de testes de outros países”, especialmente Rússia e China, que exigiriam uma reposta à altura por parte dos Estados Unidos.
O perigo para o mundo
Especialistas em geopolítica temem uma escalada da corrida armamentista, com a retomada de testes nucleares por parte dos Estados Unidos gerando uma reação em cadeia. A fala de Trump retórica de “base equivalente” torna explícita uma lógica de competição estratégica que pode desestabilizar os mecanismos de controle existentes.
Além disso essa decisão aponta para uma provável erosão das normas internacionais. Embora os Estados Unidos não tenham ratificado o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares conhecido pela sigla CTBT (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty), um acordo internacional criado pela ONU, em 1996, para proibir totalmente qualquer explosão nuclear no planeta, seja para fins militares ou civis, a última explosão nuclear americana ocorreu em 1992.
A retomada de testes, especialmente se forem explosivos, traduziria um retrocesso e poderia minar a credibilidade das iniciativas de desarmamento e incentivar outros países a violar ou abandonar compromissos similares.
O impacto sobre a segurança global é inquestionável, porque enfraquece a confiança mutua entre as potências armamentistas, dificultando negociações de desamamento.
Ainda não está claro se os testes anunciados serão explosivos (com detonação de ogivas) ou não explosivos. Testes explosivos acarretariam riscos ambientais, radiação, vibrações sísmicas e poluição radioativa, resgatando os perigos históricos dos testes nucleares.
Para compreender a gravidade dessa decisão, é importante retornar ao passado e revisar o histórico dos testes nucleares no mundo, que tiveram origem em 1945, com o Projeto Manhattan e Trinity, dos Estados Unidos, que realizou o primeiro teste de arma nuclear em 16 de julho de 1945, no deserto do Novo México. Esse teste marcou simbolicamente o inícioda Era Atômica e abriu caminho para o uso das bombas em Hiroshima e Nagasaki.
Na era da corrida nuclear, entre 1945 e 1996, foram realizados mais de 2.000 testes nucleares em todo o mundo, pelos Estados Unidos, União Soviética e outras potências nucleares como Reino Unido, França, China, contribuindo para a proliferação e modernização dos arsenais.
Muitos desses testes, especialmente os atmosféricos, liberaram grandes quantidades de radiação, contaminando regiões e provocando doenças entre populações próximas.
Ao final da Guerra Fria iniciou-se um processo de limitação de testes, até se chegar ao Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares. Entretanto, nem todos os países ratificaram o tratado, e sua entrada em vigor completa depende de ratificações pendentes.
Por isso, a decisão de Donald Trump de retomar os testes nucleares marca uma guinada estratégica de enorme peso. Ela reflete não apenas um discurso de competição, mas reacende dilemas antigos: o equilíbrio entre dissuasão e desarmamento, a tensão entre realismo geopolítico e responsabilidade global, e a pergunta de até que ponto a segurança nacional justifica retornar a prática.