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Entomofagia

05/12/2025 · 12:00 · atualizado em 09/12/2025
O futuro sustentável faz parte do passado


A entomofagia - o hábito de consumir insetos como alimento - pode parecer uma inovação moderna, mas é, na verdade, uma das práticas alimentares mais antigas da humanidade. Registros arqueológicos e antropológicos mostram que povos da África, da Ásia, da Oceania e das Américas há milênios incorporam insetos à dieta. Antes da domesticação de muitos animais e do desenvolvimento da agricultura intensiva, os insetos eram uma fonte acessível, abundante e nutritiva de proteína, gordura e micronutrientes essenciais.

Apesar de a cultura ocidental ter desenvolvido um forte tabu em relação ao consumo de insetos, em grande parte por fatores históricos e simbólicos, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo ainda hoje praticam a entomofagia. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), mais de 2 mil espécies de insetos são consumidas globalmente. Entre as mais comuns estão grilos, gafanhotos, besouros, formigas, larvas de vários tipos e até cupins.

A prática é especialmente difundida na Ásia (Tailândia, Vietnã, China, Japão e Índia têm tradições culinárias envolvendo insetos), na África (República Democrática do Congo, Nigéria, Zimbábue, entre outros) e na América Latina (México, Colômbia, Peru e partes do Brasil). No México, por exemplo, pratos como chapulines (gafanhotos tostados com limão e pimenta) fazem parte da culinária tradicional. No Brasil, povos indígenas consomem há séculos formigas tanajuras, larvas de besouro e cupins, tanto por valor nutritivo quanto por tradição cultural.

Nos últimos anos, a discussão sobre sustentabilidade trouxe a entomofagia de volta ao centro do debate. A produção de insetos exige muito menos água, terra e ração do que a criação de bovinos, suínos ou aves. Além disso, emite menos gases de efeito estufa e pode ser realizada em pequenos espaços, tornando-se uma alternativa promissora em um mundo que busca reduzir o impacto ambiental da alimentação. Não por acaso, empresas de vários países,  têm investido em farinhas proteicas de inseto, barrinhas energéticas, massas enriquecidas e outros produtos industrializados.

Uma pergunta comum é: quantos insetos seriam necessários para compor uma refeição? A resposta depende da espécie e da forma de preparo. Em média, 100 gramas de insetos  (quantidade que pode substituir uma porção de carne) podem equivaler a:
•    Grilos secos: cerca de 120 a 150 unidades pequenas.
•    Gafanhotos: entre 15 e 25 indivíduos, dependendo do tamanho.
•    Larvas de besouro: aproximadamente 150 a 200 larvas.
•    Formigas tanajuras: aproximadamente 80 a 120 formigas grandes.

Essas quantidades variam porque o teor de água e a estrutura corporal dos insetos são muito diferentes. Alguns são consumidos inteiros; outros são transformados em farinha, o que aumenta a densidade proteica.

A aceitação cultural, claro, ainda é o maior desafio. Muitos consumidores ainda sentem resistência ao visual ou à ideia de comer insetos. No entanto, produtos processados, como barras, farinhas e massas enriquecidas, tendem a gerar maior aceitação justamente porque o inseto não é percebido diretamente. Para especialistas em segurança alimentar, a entomofagia não pretende substituir completamente outras fontes de proteína, mas ampliar as possibilidades e tornar a alimentação global mais sustentável e diversa.

Assim, longe de ser apenas uma tendência exótica, a entomofagia representa uma reconexão com práticas antigas e uma resposta concreta aos desafios do futuro. Em um planeta em transformação, olhar para os pequenos seres que sempre estiveram ao nosso redor pode ser um grande passo rumo a uma alimentação mais equilibrada, eficiente e responsável.

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