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Haiti: o ideal não se concretizou

22/03/2024 · 04:27 · atualizado em 22/03/2024
Primeira república negra, país mergulhou no caos


O Haiti vem enfrentando uma onda de violência sem precedentes, sem governo, após a renúncia e exílio do primeiro-ministro, com gangues tomando as ruas e libertando presos das cadeias.

Mais um episódio na longa série de desafios políticos, sociais e econômicos que se apresentaram. A nação caribenha tem sido historicamente marcada por instabilidade política, pobreza generalizada, corrupção, tudo isso agravado por desastres naturais frequentes.

Em termos de governo, o Haiti passou por várias transições e crises políticas ao longo dos anos. A estabilidade política tem sido difícil de alcançar, com golpes de estado, disputas eleitorais e instabilidade institucional sendo características recorrentes.

A dívida da independência
E pensar que o país é a república negra mais antiga do mundo, tendo alcançado a independência após a única revolta de escravos bem-sucedida na história da humanidade, no episódio conhecido como revolta de Saint-Domingue, em 1791, quando um grupo de escravos, sob a liderança de Boukman, inspirado pelos ideais da revolução Francesa de 1789, se rebelou, destruiu as plantações e matou todos os brancos que viviam na região.

Foi o estopim de uma guerra civil, que envolveu até tropas de Napoleão Bonaparte e que durou doze anos até a expulsão dos franceses da ilha. Em 1804 o Haiti declarou sua independência, após um massacre de homens brancos que resultou em milhares de mortes entre as duas partes, plantações destruídas e acabou com o pouco de infraestrutura que o país detinha. E mais: o massacre de homens brancos despertou um sentimento de revanche em ouros países que detinham colônias na região e não reconheceram a nova república. Assim, o Haiti ficou isolado, política e economicamente até que, em 1825, o presidente haitiano Jean-Pierre Boyer assinou um acordo com o rei Carlos X, da França, para que, em troca do reconhecimento da independência o Haiti fizesse uma redução de 50% sobre as tarifas de importação de produtos franceses e indenizasse a França com 150 milhões de francos (antiga moeda francesa), o que hoje corresponderia a algo em torno de 21 bilhões de dólares, como forma de indenização pela propriedades confiscadas e mortes de cidadãos franceses.

É claro que o Haiti não dispunha dessa quantia, mas a França ofereceu um empréstimo através de um banco francês. E assim o país mergulhou na chamada dívida de independência. Incapaz de pagar esse empréstimo, que consumia praticamente toda a riqueza do país, o Haiti recorreu sucessivamente a novos empréstimos, até quitar a dívida da independência em 1947. Mas o estrago já estava feito: com uma elevada dívida externa, sem poder fazer investimentos em saúde e educação, baixa produtividade, sem recursos de infraestrutura, o país enfrentou ainda episódios de uma ditadura que durou 28 anos, ocupação pelos Estados Unidos, corrupção e desigualdade social, e desastres naturais, como furacões e terremotos, por se situar na região da maior placa tectônica das Américas. Hoje ocupa o triste posto de país mais pobre das Américas, um dos piores índices de IDH do mundo e enfrenta grave crise humanitária e política.

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