A moda dos alimentos crus
Há alguns anos, virou moda nos Estados Unidos seguir dietas baseadas exclusivamente em alimentos crus. Demi Moore e Robin Williams, entre outros tantos, estavam entre os adeptos da onda que provocou a abertura de restaurantes especializados por todo país. O crudivorismo, ou seja, o hábito de se nutrir de alimentos crus, conhecido em inglês como “raw-food” (comida crua) se sofisticou e inova nas receitas para quebrar a monotonia do paladar.
Os radicais da nova tendência alimentar comem apenas vegetais não- cozidos, como folhas, frutas e legumes. Evitam carne de qualquer espécie e alimentos processados e refinados, como laticínios, grãos de cereais, sal e açúcar. Ovos também não. E mais: nada deve ser guardado na geladeira. A comida que não pode ser conservada naturalmente, não serve!
A água é utilizada apenas para lavar os alimento, e sempre fria. Não faltam argumentos para os defensores da dieta crua: estudos britânicos apontam a baixa incidência de câncer e de ataques cardíacos entre os que consomem principalmente alimentos crus; gasta-se menos energia no processo de digestão, alegam; cria-se maior resistência a resfriados e gripes; a pele torna-se mais saudável e o cabelo mais brilhante.
A explicação para estas vantagens é de que os alimentos crus continuam ricos em nutrientes, já que não há destruição de vitaminas e minerais como acontece no processo de cozimento. As enzimas presentes nos alimentos crus são preservadas e, assim, auxiliam na digestão do próprio alimento, permitindo que as enzimas produzidas pelo organismo sejam usadas para outros fins.
Os vegetais crus contêm compostos como os caritenoides, os flavonoides e os picnogenóis que, segundo diversas pesquisas, têm propriedades benéficas à saúde. Ora, mas criar uma dieta só na base de alimentos crus não é fácil. Torna-se complicado comer em restaurantes e o sabor e a monotonia do cardápio também pesam.
A combinação de frutas e legumes em sucos e vitaminas é uma das possibilidades, além da ingestão pura e simples tanto das frutas quanto dos legumes. Um restaurante londrino especializado em cardápio cru dá uma dica para ampliar o menu: os alimentos podem ser preparados em um desidratador, um equipamento que circula ar quente, para secar os alimentos em vez de cozinhá-los, permitindo fazer pizza crua e macarrão cru, ou outras receitas na base de vegetais, que a imaginação de cada um produzir.
Stephen Arlin, autor do livro “Natura’s First Law: the raw-food diet” (A primeira lei da natureza: a dieta da comida crua) orienta quem deseja se tornar adepto: inicie a dieta gradualmente no seu dia a dia. Selecione 3 tipos de comida: verduras, frutas doces e frutas oleosas.
Quanto mais sedentário, mais verdura se deve consumir e quanto mais ativo, mais frutas doces. Mas nenhum modismo fica imune de contra-ataques (ainda bem!). E, neste caso, não são poucos! Os especialistas enumeram algumas das desvantagens de uma dieta radical:
- o comprometimento da higiene dos alimentos, já que o cozimento é uma forma de eliminar micro-organismos nocivos à saúde. Pode ser contornado, entretanto, com cuidados especiais como manter frutas, legumes e verduras durante meia hora em um composto de 1litro de água e 1colher de sopa de vinagre ou cloro;
- a limitação de alimentos consumidos, provocando um desequilíbrio de nutrientes;
- a ausência nos vegetais da substância chamada tirosina, responsável pela adequada comunicação química entre as células do cérebro;
- a ausência da vitamina B12 (encontrada em carnes, peixes, ovos e leite) necessária à formação de glóbulos vermelhos e de sistemas nervosos e cardiovasculares saudáveis. Contudo, pode ser compensada com o uso suplementar da vitamina em injeções ou dosagem oral.
Na verdade, nenhum deles combate a ingestão de alimentos crus, mas a dieta radical. Quem não pretende aposentar o fogão, mas acrescentar alguns crus à dieta, é preciso ter cuidados com a carga microbiana que estes alimentos abrigam:
- evite o contato entre alimentos crus e cozidos por causa da contaminação cruzada. Por isto estoque alimentos crus e cozidos separadamente no refrigerador e congelador.
- as hortaliças devem ser acondicionadas em sacos plásticos limpos, após a retirada das folhas estragadas;
- em alimentos prontos para consumo, não utilize utensílios que tenham sido usados em alimentos crus.
É fato que, tanto na vida quanto na alimentação, todo comportamento radical é pouco recomendável.