Cine História
Nestes tempos de isolamento social, assistir a um filme na tv ou no computador é programa certo. Tenho uma sugestão para você: Caça às Bruxas, disponível no Globo Play. De bônus, você ainda ganha uma aula de história. E para quem vai fazer ENEM, perguntas sobre esse tema são aposta certa.
O filme aborda uma pandemia, que tem semelhanças com a que estamos vivendo, mas que se passou na Idade Média: a peste bubônica, que assolou Europa e Ásia, no século XIV.
Febre, calafrios, dores de cabeça insuportáveis, fadiga e dores musculares. Esses sintomas nos fazem pensar no coronavírus, responsável pela COVID-19.
As autoridades médicas e a ciência recomendam o isolamento social e os protocolos de higienização como principais armas para frear a disseminação do contágio e não estrangular a capacidade dos sistemas de saúde nacionais, que já têm sacrificado enormemente um sem número de enfermeiros e médicos.
Os sintomas e as medidas de isolamento também estavam presentes durante a epidemia de peste bubônica.
No filme, dois cavaleiros templários, desiludidos com a própria fé católica, são presos como desertores, em meio à crescente disseminação da peste, em meados do século XIV. Como condição para sua liberdade, um cardeal (infectado pela peste) oferece uma missão arriscada: levar uma mulher acusada de bruxaria até um mosteiro distante para que ela seja submetida a um ritual, o que acreditariam ser necessário para extinguir a pandemia. Os dois cavaleiros seguem viagem com um padre, um cavaleiro que perdeu a família para a peste, um fanfarrão e um coroinha que quer aprender a ser cavaleiro. Após mortes entre eles e inúmeros percalços, chegam ao mosteiro e se veem em uma complicada batalha frente a um demônio. Ou seja, vencer a peste era questão de fé e, sobretudo, bravura e sacrifícios.
A peste bubônica tem suas origens na grande fome ocorrida na Baixa Idade Média, num cenário de crise do sistema feudal. Entre os séculos X e XIII a Europa verificou um acentuado crescimento demográfico, mais que dobrando sua população (de 22 a mais de 50 milhões de pessoas). Isso levou à diminuição das áreas férteis e, consequentemente, menor produção de alimentos, espalhando a fome por toda a Europa. Mal alimentadas, enfraquecidas e vivendo em condições extremamente insalubres, as pessoas mais pobres ficaram vulneráveis a doenças contagiosas. A mais grave delas era transmitida pelo bacilo Pasteurella Pestis, por duas formas: bubônica e pulmonar. Ou seja, pela picada de pulgas de ratos ou pela tosse e gotículas expelidas pela fala. O contágio se espalhou com rapidez e intensidade em 1347 com a chegada de um navio genovês a Constantinopla. De lá, a doença rapidamente se espalhou por toda a costa do Mediterrâneo e, até 1350, aproximadamente 1/3 da população da Europa havia morrido, totalizando aproximadamente 200 milhões de pessoas mortas pela peste.
A circulação de pessoas e mercadorias tornara-se mais intensa entre os séculos XI e XIII por conta do renascimento comercial e urbano (rotas comerciais expandindo, feiras mercantis) e, nessa nova configuração social e econômica a disseminação da peste foi ampliada enormemente, o que explica boa parte da crise do sistema feudal, nos séculos XIV e XV.
Diante desse cenário sombrio da Era Medieval, nós, aqui no século XXI, contamos com expressivas vantagens. A Europa Medieval estava mergulhada em crendices, superstições e fanatismos religiosos, num período anterior à grande revolução científica (entre os séculos XVI e XVIII), por meio da qual predominou na Europa uma mentalidade muito mais racional e que possibilitou o avanço da medicina e da ciência em geral. O desconhecimento da peste permitiu que sua disseminação fosse extremamente danosa. Hoje, mesmo com toda tecnologia e medicina que temos, não é fácil conter a expansão do COVID-19 pelo mundo.
Muitos apontam, diante da necessidade de isolamento, os problemas de se aprofundar um quadro de recessão econômica que existia antes da pandemia. Lembrando que são diferentes o isolamento social (ação preventiva e crucial para frear a exposição ao contágio) e a quarentena (medida destinada aos já infectados). Durante a Idade Média, o principal aliado da disseminação da peste era a desinformação, que expôs a vida de milhões de pessoas à doença. Daqui do século XXI podemos buscar e checar informações e apostar nas chances de preservar a vida. E inclusive, para quem possa ficar em casa, cada dia é uma oportunidade de aprender coisas novas, estimular a curiosidade para novos conhecimentos – porque isso nos torna ainda mais humanos. E não precisamos de outra Idade Média, não é verdade? Fique em segurança, em casa, lave as mãos e cuide dos seus.