O futuro da Língua Portuguesa num mundo globalizado que só fala inglês
Devido ao poderio econômico e polêmico dos Estados Unidos, o inglês tornou-se o esperanto do novo milênio. Em artigo publicado no jornal O Globo, José Enrique Barreiro discorre sobre o uso abusivo do inglês no linguajar cotidiano. Algumas frases recheadas por palavras em inglês chegam a ser patéticas.
O caso, por exemplo, de "O Fernando, controller da holding, enviou-lhe e-mail solicitando uma conference call para quarta-feira ao meio-dia. Ele precisa do feed-back da equipe para os contatos com o pessoal do buy side e do sell side. Ou ainda: "O Hermio, da cadeia self-service, quer lançar um franchise e precisa que você escreva um paper sobre isso. A Cátia, da Brainstorming, quer lhe falar sobre o recall da campanha. Disse que adorou o approach e o design, mas acha que tem um problema de timing.
Outro caso patente de submissão da língua portuguesa é globalização a recente decisão do presidente da Petrobras de trocar o "s" final do nome da empresa por um "x". Ele alegou que o "x" seria mais recorrente em inglês e espanhol do que o "s" e que a mudança seria necessária para tornar a empresa mais aceita no mundo globalizado. O jornalista José Namanne, em artigo publicado no jornal Estado de São Paulo, rebateu esses argumentos dizendo que, se assim fosse, então em vez de English, escreveríamos Englix. O presidente da Petrobrás também disse que a identificação do sufixo "bras" com o Brasil comprometeria a empatia do púlico estrangeiro com a marca.
A linguuísta finlandesa Tove Stuknabb-Kangas vem chamando a atenção para o que ela chama de "genocídio linguístico": o desaparecimento das línguas faladas no mundo hoje numa velocidade nunca vista na históia da civiliza?o humana. Das cerca de 6.700 línguas faladas atualmente no planeta, apenas 670, segundo as previsõess mais realistas, ainda estarão vivas dentro de 100 anos. Quase a metade delas, 3.490, são faladas em apenas nove países. O Brasil está neste grupo, com 180 idiomas atualmente o português e as línguas indígenas. Na época do Descobrimento, eram 1.175. Segundo o botánico americano Gary Martin (PhD em Antropologia), o Brasil é uma das mais importantes bioculturais da Terra.
Discute-se também o possível desaparecimento da língua portuguesa. O estudioso americano Steven Fisher, famoso por haver decifrado as inscrições da Ilha de Pácoa, prevê o enfraquecimento do português pelo peso globalizante do espanhol de Castela. Daí a iniciativa dos Países de Língua Portuguesa de se unirem para defender o nosso idioma. Um dos pontos a serem considerados é o da inclusão do português como língua oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, as línguas oficiais da ONU são o chinês, o inglês, o espanhol, o russo, o francês e o árabe. O problema da inclusão do português e sobretudo, financeiro, já que o Brasil teria que arcar com as despesas de impressão, de tradutores e da construção de cabines para tradução nas salas de reunião e assembléias.
Há ainda os que sonham em preservar o português, mas em fazer uma propagação imperial da língua. Essa intenção, no entanto, é apontada pelos linguístas como utópica pela simples razão de que os estrangeiros tem dificuldade para assimilar a fonéica da língua portuguesa. Para que eles pudessem se adaptar, a língua teria que ser simplificada e acabaria se degradando numa nova espéie de esperanto. Dizem os estudiosos que as tentativas de reforma ortográfica que pretendem unificar o português do Brasil, do mundo africano e o de Portugal já tendem para essa "esperantização" porque cortam diferenças na verdade invencíveis.
Os mais apocalíticos acham que estamos falando um português que é quase um dialeto recheado de expressõess em inglês. A língua portuguesa estaria sendo desperdiçada, maltratada, desprezada por políticos, artistas, jogadores de futebol, profissionais de comunicação e pessoas politizadas, ou seja, formadores de opinião. O português é uma língua cantada, cheia de dengo, o oposto de uma língua acadêmica. É por isso que ela tem própria aos neologismos, como na literatura de José Guimarãess Rosa e Ariano Suassuna. A questão agora é saber por que uma língua que tem tamanha capacidade de se moldar a novas situações, criando novas palavras, sente necessidade de usar tantos termos em inglês.