Amazônia: Plano Cobra vai resguardar fronteiras contra a guerrilha colombiana
O delegado da Polícia Federal Mauro Spósito, chefe da Unidade de Projetos Especiais da Polícia Federal do Amazonas e coordenador da Operação Cobra, diz que serão feitas coletas diárias de amostras de água do rio Içá (continuação do Putumaio em território brasileiro) e do Solimões. As amostras serão analisadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus. Em setembro de 1998, num acordo para facilitar as negociações de paz, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc, assumiram o controle de uma região de 42.000 quilômetros quadrados no sudoeste do país. A poderosa organização contabilizava cerca de 11.000 combatentes, e obtinha recursos com seqüestros e venda de proteção ao narcotráfico. A ocupação guerrilheira deveria durar apenas três meses, tempo em que as Farc e o governo buscariam um acordo para pôr fim a mais de três décadas de confronto. A área então controlada pela guerrilha tinha 90.000 habitantes, um pedaço de floresta maior que a Suíça. Atualmente, estima-se que sejam 15.000 homens e mulheres em armas na Colômbia, alistados na Farc e no Exército de Libertação Nacional. As forças guerrilheiras controlam ou circulam livremente por 40% do território nacional. Nos últimos meses, as Forças Armadas colombianas sofreram derrotas sérias para a guerrilha. A situação na Colômbia é assustadora. As atividades da guerrilha desencadearam reações violentas entre os grandes fazendeiros, que criaram suas próprias milícias, responsáveis por sucessivos massacres de agricultores suspeitos de simpatia pela guerrilha. O governo também não controla totalmente a ação do Exército, que elimina os suspeitos em verdadeiros massacres. Os pistoleiros do narcotráfico também agem impunemente. Nos últimos sete anos morreram mais de 30.000 pessoas e cerca de 1 milhão de colombianos tiveram que abandonar suas casas. O crescimento da guerrilha na Colômbia deve-se à extrema pobreza (são as camadas mais pobres da população que fornecem os soldados para a guerrilha), à expansão do narcotráfico (que compra proteção dos guerrilheiros e recruta agricultores pobres para o cultivo da coca) e à falta de controle do governo. O apoio norte-americano à Colômbia só é superado pela ajuda militar que os EUA dão a Israel e ao Egito. Estima-se que a venda de proteção ao plantio e refino da coca renda 600 milhões de dólares por ano às Farc. De inferno verde a pulmão do mundo, uma coleção de equívocos A Amazônia sempre despertou a curiosidade de cientistas e aventureiros de todo o mundo. As investidas mais sérias na região começaram em meados da década de 60. O presidente Juscelino Kubitschek deu o pontapé inicial com as obras da Rodovia Belém--Brasília, em 1958. Durante a ditadura militar (1964-1985), o governo decidiu colonizar "na marra" a região, chamada então de "inferno verde". Os militares temiam as ameaças à soberania do país, tanto pela invasão dos países vizinhos quanto pela ingerência internacional, através da ONU. As iniciativas foram desastrosas, a começar pela Transamazônica, uma estrada que rasgava a selva com o objetivo de integrar o Brasil. O governo incentivou a ida de colonizadores para a Amazônia, distribuindo terras e recursos. A idéia era disseminar a criação de gado e a exportação de madeira. Não funcionou, assim como não funcionaram os projetos como o Jari e a Fordlândia. A maior parte da Transamazônica foi retomada pela mata, e as sedes do megaprojetos viraram cidades-fantasma. Hoje em dia o governo quer utilizar principalmente biotecnologia e ecoturismo na exploração econômica da região. Até 2013 deverão estar extintos todos os incentivos fiscais para empresários que se instalem na Amazônia. Mas é preciso correr para preservar a região. Nas últimas três décadas foram derrubadas mais árvores do que nos quatro séculos anteriores. Desde os anos 60, quando o governo militar acelerou as investidas, uma área equivalente ao território da França já foi devastada. Hoje sabe-se que a água é o maior tesouro amazônico, e não apenas suas árvores. A Amazônia não é "o pulmão do mundo", como se dizia há alguns anos, mas certamente seu desmatamento afeta o equilíbrio ecológico do planeta. A região tem a maior variedade do mundo de pássaros, peixes e insetos. Só de peixes, são 3.000 espécies diferentes, 15 vezes mais do que nos rios da Europa. Os cientistas já sabem, também, que o solo da Amazônia é fraquíssimo, argiloso ou arenoso em sua maior parte. As árvores se nutrem do próprio material orgânico que derrubam, como galhos e folhas. O desmatamento também pode interromper um ciclo fundamental, o das chuvas. São as águas que caem do céu que mantêm o viço da floresta. Metade da chuva vem do Oceano Atlântico, e a outra metade de um fenômeno que os cientistas chamam de evapotranspiração, resultado da vida da selva. O esconderijo dos traficantes Durante o governo de Fernando Collor foi anunciada a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia, o Sivam. Trata-se de uma sofisticada rede de radares, satélites e sensores que irá concentrar milhares de informações sobre a região. É um projeto caro, seu custo é de 1,4 bilhão de dólares. Quando entrar em funcionamento, o sistema de 20 radares interligados será capaz de formar um banco de dados único sobre a Amazônia. Em tempo real, o governo e instituições autorizadas terão acesso a informações sobre desmatamento e queimadas na floresta, tráfego aéreo, novas fronteiras agropecuárias, formação de nuvens, acidentes geográficos e até localização de tribos indígenas que ainda não foram contatadas. O maior problema da Amazônia, nos dias de hoje, é saber exatamente o que acontece por lá, inclusive na fronteira com outros países, quase completamente desguarnecidas. Sabe-se, por exemplo, que os traficantes colombianos mantêm esconderijos na floresta, mas não há como rastreá-los. São cinco radares operando na Amazônia, nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Manaus, Boa Vista e Belém. Mas são pouco potentes e não detectam aviões que voem a altitudes muito baixas, o que facilita a vinda de traficantes e garimpeiros ilegais. Com os radares previstos para o Sivam, voar ou navegar nos rios sem ser detectado vai ser muito difícil. Um desses radares tem potência para registrar imagens através da copa das árvores e penetrar sua visão até 2 metros acorpo da superfície do solo e 50 metros na água, o que é importante para identificar minérios e características do solo. Mas o Sivam está atrasado. A empresa Esca - Engenharia de Sistemas e Controle e Automação, que seria responsável pelo pré-projeto, faliu. A americana Raytheon, que a substituiu, envolveu-se em suspeitas de favorecimento. O escândalo resultou na queda de um ministro e no afastamento de dois assessores do governo. O governo brasileiro iniciou, no dia 27 de setembro, a Operação Cobra, um plano de fiscalização dos 1.644 quilômetros de fronteira do Brasil com a Colômbia. A operação — cujo nome reúne as sílabas iniciais dos dois países — vai mobilizar 180 agentes da Polícia Federal, 3.000 soldados do Exército e deve durar três anos, com um custo estimado de R$ 10,4 milhões.
O Brasil está preocupado com o chamado Plano Colômbia, um conjunto de operações que o governo colombiano deve realizar para combater o narcotráfico naquele país, com financiamento norte-americano. A Colômbia é responsável pela produção de 80% da cocaína consumida nos Estados Unidos. Além de temer a infiltração de narcotraficantes, guerrilheiros e até mesmo de civis em território brasileiro, o governo quer se resguardar contra possíveis ofensas à soberania do nosso território.
O Plano Colômbia foi lançado pelo presidente colombiano Andrés Pastrana, e seu custo total deve ser de US$ 7,550 bilhões, sendo que os EUA vão colaborar com US$ 1,3 bilhão. O objetivo é combater o narcotráfico no país e também desbaratar as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a maior guerrilha do país. A ação tem o apoio do governo brasileiro que, no entanto, resolveu se antecipar na defesa de sua fronteira. A Polícia Federal acredita que o Plano Colômbia só será deslanchado de fato no ano que vem, em razão da eleição presidencial nos Estados Unidos, que deve retardar a ajuda financeira norte-americana ao governo colombiano.
O governo colombiano pretende erradicar 50 mil hectares de plantio de coca na região do rio Putumaio, onde cerca de 13 mil famílias camponesas dependem dessa atividade. De acordo com a Polícia Federal, pelo menos 8.000 guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), além de organizações paramilitares, vivem naquela área e também estariam envolvidos com o narcotráfico. Além disso, o Ministério da Defesa teme a possibilidade de utilização de fungos para a destruição dos plantios de coca que poderiam levar à contaminação dos rios da Amazônia.
Enfrentamento de quatro décadasA Amazônia é a maior e mais rica floresta tropical do mundo. Abrange nove países da América do Sul, e 60% dela ficam no Brasil. A Amazônia brasileira é cortada de ponta a ponta pelo Rio Amazonas, que tem mais de mil afluentes. Nela está 1/5 de toda a água doce do planeta.