Afeganistão: um mosaico de diferentes culturas e etnias
Ao menos um ponto positivo pode ser atribuído à guerra que os Estados Unidos declararam ao Afeganistão: pela primeira vez, o mundo descobre as múltiplas culturas que compõem a sofrida população daquele país. Se olharmos atentamente, podemos descobrir o mosaico de etnias e antigas culturas que já passaram por ali. A origem de algumas delas remonta a séculos atrás, aos tempos das grandes civilizações que viveram na Ásia Central. Uma boa parte dessa ocupação de diferentes povos no território afegão se deu entre os séculos X e XIII, no tempo da Rota da Seda. O povo afegão revela muitas faces, de peles escuras como a dos pushtus e baluques, de peles mais claras como as dos uzbeques, os olhos azuis e cabelos loiros dos nuristani, os olhos orientais e cabelos negros dos hazaras, a mistura oriental-mediterrânea dos tadjiques. A combinação dessas etnias hoje mostra tipos muito raros com pessoas loiras de olhos azuis, mas repuxados como os dos orientais. Um passeio histórico pelo Afeganistão de hoje pode revelar muitos aspectos que contribuíram para a formação de um povo tão sem unidade, tão sem rosto, e que se deixou ser dominado nos últimos anos pelos talibãs. Do século três ao século cinco anteriores à era cristã, o território afegão fazia parte de uma região chamada Ariana. Essa região ia do subcontinente indiano o leste do Irã. Ali já viviam diferentes etnias como os budistas, os hindus e os arianos. Você se lembra das estátuas gigantescas dos budas que os talibãs destruíram no início deste ano? Elas remontam a esse período. Foi no século VIII que a região começou a sofrer a influência do islamismo. Praticamente todas as etnias se converteram à religião e o território então passou a ser denominado Curasão. O Afeganistão mesmo foi fundado em 1.747, quando os pushtus dominaram o país e começaram a lutar por sua autonomia. Veja abaixo um quadro sobre as algumas das diferentes etnias que hoje habitam o Afeganistão: Pushtus compõem 60,5% da população, ou seja, correspondem à maioria dos afegãos. Os talibãs fazem parte dessa etnia. São aproximadamente sete milhões de habitantes que vivem no leste e no sul do país. Os pushtus se organizam em tribos, falam na sua maioria o pushtu, idioma oficial, mas em Cabul, a capital, também falam o dari, originário do persa. Sua fisionomia apresenta traços mediterrâneos e pele mais escura. São muçulmanos sunitas(*veja abaixo). Tadjiques são o segundo maior grupo étnico do Afeganistão, num total de 30,7%. Vivem no nordeste e no oeste do país, mas ainda há tadjiques em Cabul. Têm papel de líderes na Aliança do Norte, o principal grupo de oposição ao Talibã. Foram o grupo mais forte do ponto de vista econômico e político até a tomada do poder pelos talibãs. São rivais dos pushtus por natureza. São muçulmanos sunitas e suas características físicas se assemelham às dos povos mediterrâneos com traços mongóis. Uzbeques de origem turca, os uzbeques são da mesma etnia da antiga república soviética, o Uzbequistão. Os uzbeques que vivem no Afeganistão fugiram para este país na década de 20, tentando escapara do comunismo que se impunha na Rússia com Stalin. Correspondem a 5% da população, têm pele mais clara que a dos pushtus. Também são muçulmanos sunitas. Hazaras ao contrário dos grupos anteriores, estes são muçulmanos xiitas. Eles vivem em Cabul e nas montanhas áridas do centro do país. Têm características físicas semelhantes às dos mongóis, com traços de mistura dos povos mediterrâneos. É considerado o grupo que enfrenta maior pobreza e que é mais perseguido pelos talibãs. Nuristanis é um grupo pequeno, com pouco mais de cem mil pessoas, a maioria sunita. Como os hazaras, também são muito perseguidos pelos talibãs. Foram convertidos à força ao islamismo no fim do século XIX. São os representantes louros do Afeganistão. Fonte: Jornal O Globo (*) Sunitas: grupo muçulmano que constitui a maioria dentro da comunidade islâmica mundial (ver Islã). Aceitam a suna ou repetir o comportamento do profeta guiados pelas leis do Alcorão. Enfatizam o poder de Deus e ao determinismo do destino humano. Dentro de sua teologia desenvolveram-se diversos matizes interpretativos. A tendência sunita tem sido acomodar-se às diferenças de opinião das minorias e confirmar o consenso da comunidade no que se refere a assuntos doutrinais.
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