A Globalização e os Blocos Regionais
A tendência dos países em uma economia global é a arrumação em blocos, o que facilita o comércio e o desenvolvimento econômico dos países. Blocos econômicos são associações de países, em geral de uma mesma região geográfica, que estabelecem relações econômicas privilegiadas entre si. A primeira idéia de bloco econômico foi da União Européia em 1957, mas a tendência da regionalização da economia só foi fortalecida no final dos anos 90, com o fim da Guerra Fria.
Os blocos econômicos classificam-se em zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum e união econômica e monetária. Na zona de livre comércio, como é o caso da Nafta (formado por Estados Unidos, Canadá e México), ocorre a redução ou a eliminação das taxas alfandegárias sobre a troca de mercadorias entre os países. A união aduaneira, modalidade para a qual caminha o Mercosul, além de abrir mercados internos, regulamenta o comércio dos membros com nações externas ao bloco. Já o mercado comum, garante a livre circulação de pessoas, serviços e capitais. Atualmente o único mercado livre existente é o da União Européia.
Criado em 1991, o Mercosul é composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A origem do Mercosul está nos acordos comerciais entre Brasil e Argentina, elaborados em meados dos anos 80. A partir da década de 90, o ingresso do Paraguai e Uruguai tornou a proposta de integração mais abrangente. Os países membros têm uma população de 206 milhões de habitantes e um PIB de US$ 1 trilhão, segundo dados do Banco Mundial. Chile e Bolívia, e agora o México, são membros associados, mas não entram na união aduaneira.
A União Européia é formada por 25 países da Europa. A perda da hegemonia mundial da Europa para os Estados Unidos, após a Segunda Guerra motivou a união dos países deste continente. Itália, França, Alemanha e Inglaterra (quatro do grupo das sete nações mais ricas do mundo) foram os principais defensores desta formação, ao longo dos anos. A União Européia talvez seja um dos melhores exemplos de entendimento entre países, pois além de todas as dificuldades naturais, esbarra nas diferenças culturais. Foi extremamente difícil viabilizar setores da economia européia, acostumados à proteção tarifária, quando passaram a competir com produtos de outros países.
Foi preciso anos de um entendimento para que, por exemplo, um caminhão que saísse da Alemanha para entregar produtos em Portugal não fosse parado na França ou na Itália. É mais fácil aceitar esse fato quando são criadas compensações, e tecnologias são transferidas para permitir um crescimento conjunto, reduzir as diferenças e estabelecer condições iguais de competição.
O Nafta é o acordo de livre comércio da América do Norte, do qual fazem parte: Estados Unidos, México e Canadá. O primeiro passo para a sua formação foi o tratado de livre comércio assinado por norte-americanos e canadenses em 1988, ao qual os mexicanos aderiram em 1992. O comércio entre estes países totalizou cerca de U$ 477 bilhões em 1999.
Nos casos europeu e americano, países mais ricos e capazes de interferência decisiva para resolver impasses foram fundamentais na formação dos dois blocos. A possibilidade de um ou mais países participantes ter condições de bancar diferenças, desajustes, suprir deficiências e identificar capacitações naturais tem sido um fator decisivo na formação estratégica dos blocos.
No caso do Mercosul, a visão apressada e burocrática na sua formação deu ao projeto um caráter mais oficial do que empresarial. Os problemas surgiram exatamente quando aumentaram as transações e os interesses particulares foram perturbados. O Mercosul juntou países de identidade cultural facilmente adaptável, mas as barreiras e dificuldades parecem muito mais intransponíveis do que no caso europeu.
Não há um sócio rico para fazer a diferença na hora da discussão. O comércio entre os países esbarra, por exemplo, em dez caminhões de frango brasileiros impedidos por um burocrata de entrar na Argentina. A aparente falta de perspectiva e o aprofundamento das crises nacionais (da Argentina, principalmente) fizeram com que outros potenciais sócios não entrassem no bloco, vendo-o mais como problema do que solução.
Sem um Mercosul forte, agressivo, e com economias estáveis, não se pode imaginar compor um bloco maior. Se os participantes não crescerem e os atrativos tornarem-se maiores, o Mercosul corre o risco de simplesmente não acontecer. Talvez também falte uma maior vontade entre Brasil e Argentina de abrir mão de alguns interesses, em prol da integração da América Latina.
A chave da economia em blocos está no crescimento conjunto, na troca de informações, tecnologias, e a não sobreposição de um país sobre outro. A questão é se Brasil e Argentina estão dispostos a isso.