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Bandeira dos Estados Confederados

25/06/2015
Ódio racial ou símbolo de herança cultural?

No começo desta semana, o mundo acompanhou a explosão de uma grande polêmica entre os americanos: a bandeira dos Estados Confederados é ou não uma marca de ódio racial?

A discussão veio à tona depois do ataque a uma igreja da comunidade negra na cidade de Charleston. Dylann Roof, atirador acusado de matar nove pessoas que estavam no templo, aparece em fotos portando uma arma e a bandeira em questão, que no passado também foi utilizada pelos Estados do sul durante a Guerra Civil. O motivo que teria levado o jovem a cometer o crime foi ódio racial.

Se já não bastasse o mal-estar causado pela foto de Roof, a determinação da governadora da Carolina do Sul (EUA) fomentou ainda mais o debate. Nikki Haley solicitou a retirada da bandeira dos Estados Confederados que estava hasteada em um memorial da capital. A iniciativa dividiu opiniões no país.

Negros x Confederados

Para os negros, que aplaudiram a decisão de Haley, a bandeira é um grande ícone da soberania branca, já para os veteranos confederados - hoje representados por seus familiares – ela nada tem a ver com ódio racial, ao contrário, significa uma marca de sua história e herança cultural.

A organização "Filhos de Veteranos Confederados", formada por descendentes de combatentes da guerra civil, afirmou que vai lutar contra a retirada da bandeira. Segundo a governadora, os argumentos do grupo são válidos, no entanto, não se sobrepõem aos sentimentos de muitos cidadãos americanos. Em discurso, Haley afirmou que a bandeira é um "símbolo profundamente ofensivo de uma opressão brutal".

No período da guerra civil, os Estados Confederados lutaram pela independência na tentativa de impedir a abolição da escravatura.

O que foi a Guerra Civil Americana?

Também conhecida como Guerra da Secessão, a Guerra Civil Americana (1861-1865) foi o confronto mais sangrento da história dos Estados Unidos, matando mais cidadãos norte-americanos do que qualquer outro.

O combate consistiu na luta entre os estados do Sul latifundiário e aristocrata e os estados do Norte industrializado, e explodiu com a vitória do revolucionário e abolicionista Abraham Lincoln nas eleições presidenciais. Os estados do sul adotavam o protecionismo alfandegário e a manutenção do escravismo, enquanto o Norte, liberal e industrializado, defendia a expansão capitalista pelo país.

Em 1861, o sul declarou independência em relação ao norte, e o presidente Lincoln apoiou a manutenção da União, iniciando a guerra.

O sul foi derrotado e o saldo de mortos foi de 600 mil. A vitória do Norte aparece como resultado do forte desenvolvimento industrial e um exército profissional capaz de levar à frente uma longa e dura campanha. A derrota provocou cicatrizes profundas na história norte-americana já que ainda existe uma mentalidade conservadora e racista como se vê claramente na organização Klu-Klux-Klan. A vitória do norte consolidou o crescimento industrial e após a guerra os EUA têm um crescimento econômico extraordinário.

Após inúmeras batalhas e lastimáveis prejuízos para o país, o presidente Andrew Johnson assinou a declaração formal de fim da Guerra em 20 de agosto de 1866.

Mas afinal, a bandeira tem ou não fundamentos racistas?

De acordo com sua história original, não!

Criada por William Porcher Miles - que na época presidia o comitê do qual o lema fazia parte – a bandeira dos Estados Confederados nunca chegou a ser o emblema oficial dos Estados do Sul. Em 1861, por votação, ela foi rejeitada e perdeu para outra, conhecida como bandeira das "barras e estrelas".

No entanto, o Exército da Virgínia do Norte - principal força militar dos Estados Confederados – adotou a signa criada por Miles e a transformou num símbolo do nacionalismo no qual se fundamentava o movimento.

A controvérsia

Para alguns estudiosos, a divisa é sim motivo de análise, porque a escolha de uma bandeira caracterizava a busca por um ícone que representasse a supremacia branca e marcasse a escravidão.

Ao final da guerra civil, o símbolo passou a ser utilizado por soldados e em diversas comemorações pelo país. Contudo, para os negros ela sempre representou um “legado de ódio”, já que foi adotada por grupos que defendiam a segregação racial.

Atualmente, a bandeira é associada por muitos à suástica, símbolo do nazismo.

Confederados no Brasil?

Em se tratando de polêmica, o Brasil resolveu não ficar de fora! Também nesta semana, um casal paulista apareceu em fotos na internet segurando a tal bandeira! Mas calma! A foto tem um porquê!

Por aqui, a bandeira dos Estados Confederados também é hasteada. Todos os anos, em Santa Bárbara D’Oeste, uma cidade no interior de São Paulo, a 140 quilômetros da capital, a polêmica divisa é alçada às alturas em uma festa tradicional dos descendentes dos confederados que deixaram os Estados Unidos durante a Guerra Civil americana.

Debate de anos

A questão envolvendo a bandeira não é um assunto atual. Um acordo feito em 2000, na Carolina do Sul, já tratava a retirada dela de um prédio onde funciona a sede do governo. Pelas cláusulas, só a Assembleia Legislativa pode removê-la.

Buscando o fim de uma rixa de anos, uma votação prevista para esta semana ainda vai definir o local de destaque dado à bandeira.

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