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Quem é melhor do que eu?

A mitologia conta que Narciso ao ver sua imagem refletida no lago, apaixonou-se.
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E passou o resto de seus dias se admirando e recusando qualquer outro relacionamento que não fosse com ele próprio, daí a expressão “narcisista” para se referir às pessoas ou grupos que se superestimam.

Gostar de si é bastante saudável, significa amor-próprio e autoestima. Leva-nos a apostar nas nossas qualidades, a reconhecer nossas virtudes e a enfrentar desafios. Nas derrotas, afasta o desânimo crônico e estimula o recomeço. Não é à toa que as empresas valorizam a autoconfiança na seleção de seus empregados. Um bom conceito de si mesmo é útil também na vida social e afetiva. Mas a partir de um certo estágio, o excesso, a compulsividade deste “se gostar” pode refletir um transtorno de personalidade.

É quando o jeito de agir revela uma autorreferência excessiva, uma tendência à superioridade, ao exibicionismo, ao excesso de dependência de ser admirado e à superficialidade emocional, acabando por incomodar e causar sofrimento aos que estão mais próximos.


Comportamento narcisista

O psiquiatra e psicanalista José Carlos Zanin explica "que o narcisismo é um estado mental primitivo e perturbado em que a pessoa tem a necessidade de sentir-se o centro de todo interesse e importância. A capacidade de entendimento da realidade é praticamente nenhuma e, como uma criança, ele só consegue se ocupar, se interessar e se preocupar com ele próprio, exigindo sempre muita atenção".

Na criança, este estado é transitório. À medida que se desenvolve emocionalmente, vai reconhecendo a existência dos outros. Mas, em certas pessoas, este estado permanece e até se fortifica frente às frustrações mal resolvidas da vida que leva. “Estabelece-se, assim, o narcisismo como uma patologia, que funciona de forma defensiva, isto é, o narcisista necessita se achar o melhor, o maior, o mais belo..., uma espécie de enamoramento de si mesmo (como Narciso com sua imagem no espelho do lago) para se defender do quanto se sente diminuído, insuportavelmente frustrado e perturbadamente raivoso com o reconhecimento da existência e importância do(s) outro(s), com seus valores e qualidades”, esclarece o psicanalista. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, criando um personagem adequado à circunstância, que transmita a sensação de sucesso. Cerca-se de pessoas de status social elevado que lhe possam emprestar fama, poder, onipotência. Superestima a própria capacidade e exagera suas realizações. Tem uma postura arrogante. Costuma desvalorizar as contribuições alheias, particularmente daqueles que são elogiados. Sente muita inveja, mas atribui aos outros este sentimento e, por isto, acaba desconfiando de tudo e de todos. Costuma falar na primeira pessoa do singular e é ambicioso. Sua ambição transforma-se em necessidade. Utiliza-se do encanto pessoal para manipular pessoas e, quando elas deixam de ser úteis à sua sobrevivência social, descarta-as. Esta característica revela sua incapacidade de empatia e de compromisso nas relações afetivas. O narcisista não se identifica com o outro porque não se importa com o que o outro sente.

Quando tem algum interesse em jogo, dissimula afeto, mas na realidade é uma pessoa emocionalmente fria. Até consegue fazer amizades com facilidade, mas diante dos primeiros conflitos sua amoralidade aparece e, dependendo do ambiente em que se encontra, é rejeitado. Em geral, acaba solitário, migra de grupo em grupo sem construir amizades. O seu egoísmo absoluto o impede de se integrar. Quando o narcisista tem sua vaidade ofendida, reage com frieza, sadismo e agressividade. Ele não tolera a ideia do fracasso. Pode se enfurecer ou se deprimir por não alcançar o que seu ego deseja. Embora mude muito de emprego por causa do seu caráter, pode também chegar a cargos de autoridade, de comando e até políticos, em razão da sua sedução e influência junto ao poder. Então, prioriza seus interesses, se revela autoritário e adepto de práticas de assédio moral. Gosta de ser bajulado e servido, tratado como uma pessoa especial. Na vida a dois precisa ser a estrela. Se o(a) parceiro(a) for submisso(a) e dependente, a relação pode durar, mas com muita concessão e renúncia do outro. Os filhos também sofrem por sua vaidade excessiva, egocentrismo e incapacidade de conciliar interesses.

Zanin diz que “a origem deste transtorno de personalidade é a permanência no modelo primitivo, infantil, e a intolerância ao “outro”, mas a falta de limites, de crítica, de valores éticos, a ausência dos pais, a desordem sócio-familiar e a supervalorização do poder, do sucesso, da fama, tão comuns na sociedade atual, são ingredientes que despertam, instigam e fermentam traços narcisistas”. Acrescenta o psicanalista que determinadas condições culturais também favorecem e fomentam estes traços em grupos sociais que se formam em torno de causas meramente preconceituosas, discriminatórias, insensíveis à solidariedade humana. Assim, surgem os homofóbicos, os racistas, etc . O tratamento costuma ser difícil e demorado, diz o médico.

A própria personalidade do narcisista já dificulta o reconhecimento de uma necessidade de tratamento psicoterápico. Além disto, seus traços de caráter perturbam e afetam mais aos outros do que a si mesmo, desmotivando-o a desejar mudanças.

 A espécie não é rara, mas para quem teve a sorte de não tropeçar num narcisista, e mesmo assim quer conhecer um, basta procurar no cenário político brasileiro para encontrar vários... 

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