Vladimir Putin, a Síria e o ataque à São Petersburgo
Em abril de 2017, o metrô de São Petersburgo, na Rússia, sofreu um atentado a bomba, que causou a morte de muitas pessoas e dezenas de feridos. No mesmo dia, especialistas desativaram mais um artefato explosivo, encontrado em outra estação na mesma cidade.
Nenhum grupo terrorista assumiu a responsabilidade pelo atentado, mas as autoridades do país apontam, como principal suspeito, um cidadão russo, originário do Quirguistão (também conhecido como Quirguízia), um país-satélite da antiga União Soviética, de maioria populacional muçulmana.
Quando a União Soviética foi desmantelada, após a queda do Muro de Berlim, surgiram muitos países na rota entre Europa e Ásia, como Casaquistão, Turcomenistão, Quirguistão, Azerbaijão, Uzbequistão e Tadjiquistão, nações com grande quantidade de pessoas que professam o islamismo. Uma religião que prega a paz e a solidariedade entre irmãos, mas que tem, em seu seio, muitos extremistas, como tantas outras religiões mundo afora.
As transformações econômicas necessárias, após a derrota do socialismo, fizeram com que esses países passassem por intensa crise econômica, social e política e muitos de seus cidadãos migraram para a Rússia, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Imigrantes geralmente trabalham em empregos de pouca qualificação profissional, nas áreas de limpeza de vias públicas, construção civil e trabalhos domésticos. Imigrantes e seus descendentes têm dificuldade em integrar-se na sociedade russa e, assim como acontece na França ou na Bélgica, são alvos fáceis para o recrutamento dos grupos extremistas, como Estado Islâmico e Al-Qaeda.
A Rússia “quebrou” após a dissolução da ex-URSS e passou longos anos amargando as consequências da transição do socialismo para o capitalismo, arrastando sua população e imigrantes para uma grave crise. Mas, o país tem, paulatinamente, conquistado vitórias do tabuleiro geopolítico.
Atualmente a Rússia fornece petróleo (óleo e gás) para a Europa e tem grande peso político-militar. É membro do G20 e dos BRICS e tem uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Cada vez mais o país tem buscado maior expressão na geopolítica mundial, através da posse de recursos minerais estratégicos, arsenal militar, forte influência na Ásia e aliança com o Irã e a Síria.
Em 2014, atendeu aos apelos do presidente sírio, Bashar Assad, e passou a integrar uma coalizão antijihadista para auxiliar nos ataques contra o Estado Islâmico.
O grupo Jihadista Estado Islâmico nasceu no Iraque, em 2004, e tinha uma atuação discreta até a guerra civil, na Síria. A partir de 2012 começou a crescer e nos últimos anos tornou-se sinônimo de fanatismo religioso e terrorismo.
E é possível, sim, que seus recrutadores estejam no coração da Rússia, buscando aliados muçulmanos, descendentes das antigas repúblicas soviéticas. E, ao buscar o envolvimento em conflitos no Oriente Médio e norte da África, Vladimir Putin pode estar sujeitando o país a perigos do extremismo islâmico.