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Golpe na Turquia?

Por Debora Rodrigues Barbosa
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Em julho de 2016, o mundo acordou com uma notícia preocupante: parte das forças armadas turcas se mobilizou para destituir o presidente eleito, Recep Tayyip Erdogan. Especialistas em geopolítica tratam o tema como tentativa de golpe de Estado.

 

Os militares tomaram a emissora de televisão turca TRT e leram um pronunciamento no qual informavam estar redigindo uma nova constituição federal. Alegaram que a tomada de poder foi necessária porque o estado de direito no país fora corrompido por Erdogan e seus aliados políticos, e que era imprescindível prevalecer os direitos humanos, na Turquia. Os soldados tomaram o controle de aeroportos e outros pontos estratégicos em Istambul e na capital Ancara.

 

O presidente estava no balneário de Marmaris, na costa mediterrânea do país, e se deslocou para Istambul, já avisando que os “traidores” iriam pagar um alto preço, na corte de justiça, pelos seus atos e acusando seu maior opositor, o clérigo Fethullah Gulen, que vive atualmente nos Estados Unidos, como o líder do golpe. E convocou o povo para ocupar os lugares públicos em defesa da democracia. Um dia após a tentativa de golpe, milhares de pessoas foram as ruas nas principais cidades do país para defender o governo de Erdogan.

 

A reação do governo foi imediata e extrema: informações das agências internacionais de notícias apontam para quase 3 mil militares presos e, na sequência, 15 mil professores e funcionários de escolas e universidades foram presos e 50 mil pessoas presas ou afastadas de cargos públicos.

 

Após ter a situação sob controle, Umit Dundar, chefe interino das forças armadas leais a Erdogan afirmou que: “a Turquia irreversivelmente encerrou o capítulo dos golpes militares", numa alusão aos quatro golpes militares ocorridos entre as décadas de 60 e 90, em que as forças armadas exerceram o que se chama de "defesa do secularismo", a separação do estado do poder religioso.

 

Herdeira da dissolução do Império Turco-Otomano, a República da Turquia é constituída por uma maioria branca, do grupo étnico turco que professa o islamismo. Sua localização é estratégica, entre a Ásia e a Europa, e seu governo é uma democracia pluripartidária. E, a despeito de sua população muçulmana, mulheres e homens têm direitos legais iguais e a educação é prerrogativa para todos e absolutamente gratuita.

 

A liderança política turca já sofreu alguns golpes, ao longo da condição de república e o último, envolvendo militares, aconteceu em 1997, quando os servidores públicos não tomaram o poder de fato, mas determinaram condições de governo, que iam além do setor de segurança, sobretudo no que dizia respeito à religião. Até hoje, a maior parte dos chefes militares opõe-se às tendências islâmicas de alguns partidos populares e insiste na ideia do secularismo (separação entre religião e governo).

 

Recep Tayyip Erdogan fundou sua atual legenda, Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), em 2001, e se tornou primeiro-ministro em 2003. A partir de então, buscou controlar a situação de conflito histórico com a população curda e elaborou um programa de governo que atendesse aos desejos do ocidente, com ênfase nos direitos humanos e leis antiterrorismo, no intuito de uma vaga definitiva na União Europeia. Seu governo era visto como modelo, para os países árabes, exatamente por conta das liberdades civis, religiosas e entre gêneros.

 

Em 2014, Erdogan assumiu a presidência da república e, desde então, tem concentrado cada vez mais poder, se revelado autoritário e muito hostil às minorias curdas e aos direitos humanos. O presidente tem se envolvido em escândalos de corrupção e demonstrado um interesse no passado otomano do país, com fortes convicções pró- islamismo, deixando parte da população preocupada com a anulação de sua condição de governo secular.

 

A Turquia controla parte do Chipre, uma ilha do mar Mediterrâneo, cuja população é composta principalmente de gregos e turcos. A independência do país depende da saída das forças armadas da Turquia e esse é um dos principais motivos para o congelamento das negociações para a entrada dos turcos na União Europeia.

 

A interpretação geopolítica internacional alega que esse endurecimento do governo de Erdogan está associado diretamente ao fim de suas esperanças de entrada no bloco econômico. Por que deveria ser democrático e liberal, se não pode entrar na União Europeia?

 

Do ponto de vista ocidental, é preocupante que grande parte do eleitorado turco seja apoiador das ideias religiosas conservadoras do presidente. Há muitos turcos ainda insatisfeitos pelo julgo secular da elite militar no país. Não é de se surpreender que a população foi às ruas apoiar Erdogan, logo após a tentativa de golpe no país.

 

É importante acompanhar os desdobramentos da situação econômica e política da Turquia e buscar compreender os efeitos a longo prazo da tentativa de golpe. Foi realmente uma tentativa de Fethullah Gulen de assumir o controle turco, apoiado pelos Estados Unidos? Poderia ser um planejamento especial proposto pela Rússia, interessada na queda de Erdogan, após a derrubada de seu avião Su-24 foi atingido por caças F-16 da Turquia na área de fronteira entre Turquia e Síria em novembro de 2015.

 

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que o avião, que levava dois pilotos, voava a uma altitude de 6 mil metros quando foi atingido por um míssil ar-ar em território da Síria, a 1km da fronteira turca. Mas a Turquia divulgou imagens de radar da rota do avião russo, mostrando que ele voava em território turco.

 

O certo é que provavelmente teremos novos capítulos desse episódio. Precisamos aguardar o desenrolar dos fatos

 

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