Eleições no Equador e o destino de Julian Assange
No início de abril de 2017, as eleições presidenciais no Equador apontaram a vitória de Lenín Moreno, o candidato apoiado pelo presidente em exercício, Rafael Correa.
Em 2007, o socialista Rafael Correa assumiu o poder e apresentou um programa de cunho nacionalista e a favor de maior participação do Estado na exploração do petróleo. Seu governo foi marcado por amplas reformas políticas e sociais, no que é conhecido como "Revolução Cidadã", oferecendo melhores condições para a população menos favorecida. Com sua liderança, o Equador viu o desemprego e a pobreza diminuírem, os gastos com educação e os investimentos em saúde aumentarem. Ampliou o acesso do povo aos cuidados médicos e ofereceu subsídios à aquisição da casa própria. Os recursos eram oriundos dos cofres públicos que gastam pouco com os juros da dívida externa (menos de 1% do PIB) e com a dívida pública (menos de 25% do PIB).
Muitos especialistas em economia internacional atribuem o sucesso de Correa a “uma mistura de sorte, oportunismo e habilidade”.
O problema é que a economia tem forte dependência de recursos enviados do exterior (por exemplo, de trabalhadores equatorianos que emigraram para Estados Unidos e Espanha) e das exportações de petróleo. Com a crise de 2008 e os reflexos nos Estados Unidos e Europa, o país sofreu forte revés. Além disso, o Equador não possui moeda própria, usa o dólar americano. Como imprimir dinheiro para enfrentar a recessão?
Questão também importante diz respeito aos atos contínuos de Correa de concentrar poder e influência. O presidente separou o setor financeiro da mídia, uma vez que os bancos eram proprietários da maior parte das empresas jornalísticas. Rafael criou leis contra monopólios e revogou a “independência” do Banco Central. Desagradou aos ricos, aos economistas e especialistas em políticas públicas.
E desagradou também aos norte-americanos e ingleses ao conceder asilo político a Julian Assange, ciberativista australiano e líder do WikiLeaks, o site que publica postagens de fontes anônimas com documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis para o cenário político mundial. Em 2010, Assange tinha divulgado uma grande quantidade de documentos secretos do exército dos Estados Unidos, reportando a morte de milhares de civis na guerra do Afeganistão.
O desenrolar da crise internacional acabou por unir os opositores de Correa, mas mesmo assim ele se reelegeu em 2013. Mas o ano de 2015 foi marcado por manifestações contra os projetos de lei que previam impostos à herança e ao lucro imobiliário, reunindo, aos seus opositores, setores da classe média.
Depois de sua reeleição, Rafael Correa precisava de um substituto e escolheu seu vice-presidente, Lenín Moreno, o grande mentor dos programas de assistência no país, para seu sucessor.
O novo presidente é um grande defensor do meio ambiente e sua coexistência com os povos indígenas, na juventude, o fez inclinar-se para causas sociais.
Moreno pretende manter as reformas sociais e é taxativo quanto à manutenção do chamado "Socialismo do Século XXI", que trouxe benefícios para os pobres, a partir da renda do petróleo. O problema é, com a queda dos preços das fontes petrolíferas, houve endividamento do Equador e o novo presidente precisará de muito jogo de cintura para recuperar a confiança da classe média e dos empresários.
Ganhou as eleições por pouco, contra o banqueiro Guillermo Lasso, propondo guerra aos corruptos no governo; ampliação dos programas sociais, incentivo ao empreendimento, mediante créditos, e redução dos impostos para recuperar a capacidade de consumo dos equatorianos.
O Conselho Nacional Eleitoral confirmou a vitória do esquerdista Lenín Moreno, mas a direita tem afirmado que as eleições foram fraudulentas e a oposição tem buscado a sua impugnação, junto à Justiça e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Agora, é aguardar os acontecimentos.
Será que Julian Assange poderá ficar sossegado?