A crise de Refugiados
No contexto geopolítico da África, Ásia e Europa, a crise dos Refugiados tende a se estender de forma muito mais intensa do que em outros momentos da história.
De acordo com as Nações Unidas, o número de pessoas forçadas a sair de suas casas por conta de conflitos na Síria, Afeganistão e países ao sul do Saara, na África, já soma mais de cinquenta milhões e esta é considerada a segunda grande crise de refugiados desde Segunda Guerra Mundial.
Antes do século XX, as pessoas fugiam, principalmente, das perseguições religiosas, e a inquisição apresenta exemplos clássicos. Os refugiados da primeira e da segunda guerra tentavam afastar-se de torturas, da fome e das batalhas. Entre 1939 e 1945, foram mais de sessenta milhões de pessoas em fuga, muitas delas judeus que queriam sair da Alemanha nazista.
Nas Guerras da Coréia e do Vietnã, os asiáticos buscavam rotas de fugas variadas. Os conflitos sangrentos, a fome e as secas na África Negra, além de mortos, criaram um grande contingente de refugiados. Ainda na Guerra Fria, muitos europeus da Polônia, da antiga Tchecoslováquia, da Hungria, da Romênia e da Bulgária fugiram da opressão promovida pela ex-União Soviética.
Hoje vemos alguns desses países oprimindo refugiados que buscam seus territórios, fugindo de tiranos sanguinários, como o talibã, o Estado Islâmico, Bashar al-Assad e outros senhores da guerra.
Eles fogem de onde?
Os refugiados são oriundos principalmente do conflituoso Oriente Médio, das pobres nações africanas e de situações de instabilidade política e miséria da própria Europa.
A Primavera Árabe não deu os resultados positivos esperados e a situação síria é um exemplo disso. Bashar al-Assad está no poder há décadas e massacra seus oponentes, sem piedade. Os sírios fogem da guerra civil do país, com o envolvimento de várias facções como o grupo terrorista Estado Islâmico, os separatistas curdos e forças militares do Estado.
Os líbios formam um outro grande grupo de migrantes, por conta da guerra no país, que foi esfacelado, após a morte de Muamar Kadafi. Com a sua queda, o poder centralizado, que impedia a tentativa de ascensão ao poder de várias tribos do país, foi dissolvido. A guerra civil é um embate entre diferentes milícias, cada qual com a sua origem, seja tribal ou islamita.
Na esteira asiática, não se pode esquecer dos afegãos, que buscam acolhimento, após o recrudescimento da guerra civil, com o avanço do talibã. E também devemos lembrar dos conflitos e problemas no Irã nuclear, dos resultados da invasão estadunidense no Iraque e nas zonas de fronteiras paquistanesas.
No Chifre da África, a violência sempre foi grande, mas tem ganhado dimensões absurdas, com a reunião de diferentes ingredientes, como a crise econômica, a opressão política e o serviço militar obrigatório, que têm alimentado uma legião de refugiados. Na Somália e Nigéria, outro elemento incrementa à crise: o crescimento das milícia radicais islâmicas como Al-Shabaab, filiada à Al-Qaeda (Somália) e Boko Haram, amigo do Estado Islâmico (Nigéria). Não se pode esquecer dos conflitos dentro e na borda dos territórios de Chade, Níger, Sudão e Camarões.
Os refugiados buscam quais países?
Quem sai da África busca o caminho mais perto, que é navegar pelo Mar Mediterrâneo, que separa o continente, da Europa.
Os refugiados que se dirigem ao Marrocos e Argélia buscam cortar o Mediterrâneo e seguir em direção à França e Espanha. Aliás, pelo fato da França ter colonizado a Argélia, essa comunidade africana é muito numerosa em Marselha e Paris. Por sua vez, quem sai do continente africano pela Tunísia, Egito ou Líbia segue diretamente para Malta ou o sul da Itália. Embora também desejem melhores condições de vida, acabam enfrentando os resultados da crise econômica que assolou Itália, Portugal e Espanha. Poucos conseguem chegar à Alemanha e Suíça.
Os árabes fazem uma intensa rota, passando pela Turquia ou pela Grécia, via Mar Mediterrâneo, e correm em direção à Áustria e a Alemanha através dos países do leste Europeu, como Hungria, Polônia, Romênia e Eslováquia. Esses, sim, têm apresentado escandalosas soluções, como construção de muros, militarização do exército, legalização de métodos contraditórios de expulsão de quem chega com frio, fome e sem lugar para morar. Um dia refugiado. Outro dia, opressor?
Mas embora muitos países europeus estejam apresentando soluções hostis para a situação crítica dos refugiados, também é possível observar uma grande rede de solidariedade. São pessoas comuns, que abrem suas casas dedicam não apenas parte de sua conta bancária, mas seu tempo para amenizar o sofrimento dos migrantes.